A travessia da Serra Fina, entre Passa Quatro a Itamonte, no sul de Minas Gerais, é uma trilha clássica do montanhismo no Brasil.
São 30 quilômetros de extensão, passando pela Pedra da Mina e pelo Pico dos Três Estados, respectivamente, 4º e 10º ponto mais alto do país. Além dessas duas espetaculares montanhas, diversas outras são alcançadas ou avistadas durantes essa trilha que é feita geralmente em 4 dias.
Confira algumas dicas e informações que vão ajudar no seu planejamento para fazer a Travessia da Serra Fina.
Veja como chegar, trechos, contatos de guias e resgate e tudo mais.
- Sobre a Serra Fina
- Ingressos, guias, resgates
- Quando ir
- Como chegar
- Como é a travessia: trechos, distâncias, altitudes
- O que levar
- Dicas para o trekking
Serra Fina: informações
A Serra fina faz parte da Serra da Mantiqueira, uma das mais importantes cadeias de montanhas do país.
Fica entre Minas e São Paulo, nas cidades de Passa Quatro, Itanhandu, Lavrinhas e Queluz. De lá dá para ver o Parque Nacional do Itatiaia e o Pico das Agulhas Negras, que ficam na Serra de Itatiaia, além de várias outras montanhas cobiçadas pelos aventureiros.
A Serra Fina tem um dos maiores desníveis topográficos do território brasileiro entre a base da serra e o topo da Pedra da Mina, esta que é o 4º ponto culminante do país, com seus 2.798 metros de altitude. Lá também estão o Pico dos Três Estados, 2.665 metros, que ganhou esse nome obviamente porque em seu topo está o ponto tríplice (amo essa palavra!) onde se unem as divisas dos estados de MG, SP e RJ.
Outras montanhas alcançadas durante a travessia o Pico do Capim Amarelo (2.570 metros), Alto dos Ivos (2.519 metros), Pico Cabeça de Touro (2.649 metros) e Pico Cupim do Boi (2.543 metros), além do Vale do Ruah.
O motivo do nome Serra Fina: a crista tem cerca de 1 metro de largura em alguns trechos.
A travessia é considerada de nível pesado, principalmente pelo número reduzido de fontes de água em alguns trechos, o que obriga o montanhista a carregar mais peso.
Preparo físico para a Serra Fina
A travessia da Serra Fina não é nada simples e exige muito esforço físico, mas os visuais compensam muito.
É um verdadeiro desafio, recomendado apenas pra quem está com ótimo condicionamento físico e tem experiência em trekkings de longa duração.
É fundamental ter os equipamentos adequados, planejar bem a logística e a alimentação.
Diferente de outros locais como a travessia Petrópolis x Teresópolis ou a Serra da Bocaina, que possuem locais de acesso mais fácil ou de carro, a Serra Fina não permite que pessoas sem prática de montanhismo tenham muitas chances de curtir. Além do mais, lá não existem abrigos. São de 2 a 4 dias isolados meeeesmo. Para alguns, esse é o ponto forte.
Além dos desníveis topográficos e da navegação difícil, o trajeto tem poucas fontes de água, obrigando quem se arrisca a atravessá-la a carregar de 4 a 5 litros de água em alguns trechos.
Esses são alguns motivos que fazem a Serra Fina ser conhecida como “temida”, ou como uma das travessias mais difíceis do país.
Ingressos, guias e resgate
A Serra Fina não tem controle de acesso, não é preciso comprar ingresso nem é preciso solicitar autorização ou preencher ficha de inscrição.
Quem fez nosso resgate foi o Edinho (35 99963-4108 e 3371-1660) com sua Toyota que acomoda até 8 pessoas.
A trilha é bem marcada na maioria do percurso e tem muitos totens ajudando na orientação. Mas não é recomendável ir sozinho caso não tenha experiência com navegação. A Travessia da Serra Fina exige experiência. Anote os contatos de guias experientes da região:
- Gerson Santos: 12 99610-7280 [email protected]
- Levy: 24 99907-5167
Quando ir
A temporada de montanhismo no Brasil vai mais ou menos do final de abril até meados de agosto. Sendo assim, a melhor época para fazer a travessia da Serra Fina são esses meses mais secos e com menor chance de chuva.
Junho. Feriado de Corpus Christi. Eu já estava fazendo a mala há uma semana. Às 18h da quarta estava pronta esperando três amigos que ainda não conhecia (RS), para seguir rumo a Serra Fina.
Depois disso descobri que é bom evitar os feriados. Quando chegamos na área de acampamento no alto do Capim Amarelo estava lotado. Como ainda era cedo, seguimos para o acampamento Avançado e também estava lotado. Acampamos em algum lugar entre capim de 2 metros de altura e pedras, antes do acampamento Maracanã.
Travessia da Serra Fina: como chegar em Passa Quatro
Passa Quatro está a cerca de 250 quilômetros das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. A referência para ir é Cruzeiro (SP).
Quem vem de ônibus de São Paulo deve ir através da viação Cometa, até o destino. Quem quem vem do Rio de Janeiro, pode usar a viação Cidade do Aço até Cruzeiro e quem vem de Belo Horizonte, a viação Expresso Gardênia até São Lourenço.
De São Lourenço ou Cruzeiro a Passa Quatro (cerca de 1h de viagem), a viação Cidade do Aço oferece vários horários por dia (tel.: 35 3371-2131).
De carro a partir de Belo Horizonte o acesso é pela BR-381, entrando no trevo de Três Corações, em direção a Caxambu, até Passa Quatro.
A partir do Rio de Janeiro ou São Paulo, o acesso é pela BR-116 passando por Cruzeiro.
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Como é a travessia da Serra Fina: distâncias, altitude e pontos de interesse
1º dia: Toca do Lobo – Alto do Capim Amarelo
Distância: 7km
O trekking começa na Toca do Lobo, localizada a cerca de 13km de Passa Quatro, São 7km e 1.070m de elevação até o Alto do Capim Amarelo (2.570m), área do acampamento do primeiro pernoite da travessia. Mais adiante existem outros acampamentos, como o Avançado e o Maracanã. Se der tempo, vale a pena adiantar a caminhada até um deles.
Além da Toca do Lobo, outro ponto de água é o Quartzito.
Nesse dia avistamos o Pico do Marins, com 2.420m acida do nível do mar.
2º dia: Alto do Capim Amarelo – Pedra da Mina
Distância: 6km
Com elevação menor, de 640m, esse dia é mais leve e a Pedra da Mina surpreende, pois uma vez na sua base, a subida é bem tranquila.
Nesse dia passamos pelo rio Claro e pela cachoeira Vermelha, outras fontes de água da travessia.
A Pedra da Mina é o pico mais alto da Serra da Mantiqueira e a quarta montanha mais alta do Brasil, com 2.798m. É um ótimo lugar para assistir ao pôr do sol, mas não foi o meu caso, pois pegamos muita neblina no cume e perdemos também a maravilhosa vista 360º da montanha.
O vento era tanto que quase ninguém dormiu no cume, mas sim “depois” da Pedra da Mina, em uma área de acampamento mais baixa e mais protegida do vento, mas muito fria, no início do Vale do Ruah.
Ah, não esqueça de assinar o livro de cume na Pedra da Mina.
3º dia: Pedra da Mina – Pico dos Três Estados
Distância: 7km
A caminhada passa pelo Vale do Ruah, último ponto de água antes da fonte que existe quase no final da travessia. O vale do Ruah é um verdadeiro labirinto, cheio de pântanos em que você pode se afundar na lama se não tiver muita atenção.
É fácil se perder no vale, mas a dica é mirar o meio, no ponto de “saída” do vale lá na frente.
Passamos também pelo Morro do Cupim de Boi, com 2.500m, de onde avistamos o Parque Nacional de Itatiaia e picos como Agulhas Negras, Prateleiras e Morro do Couto.
O ponto de acampamento disputado nesse dia é o cume do Pico dos Três Estados, que marca a divisa de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Com 2.665m, é considerado o 10º ponto mais alto do Brasil.
No topo, há um triângulo com o nome dos três, cada uma apontando para a direção do respectivo estado.
Nós preferimos não dormir lá em cima, mas sim no Bambuzal localizado um pouco antes da base do pico dos Três Estados. Assim dormimos mais protegidos do frio, e acordamos cedo para subir antes de o sol nascer.
4º dia: Pico dos Três Estados – Sítio do Pierre
Distância: 10km
Esse é o dia mais longo em termos de distância, e a descida acumulada é de 1.300m.
Não pense que o dia é tranquilo, pois são muitas subidas e descidas, passando por outras montanhas altas da serra, como Cabeça de Touro e o Alto dos Ivos. Isso sem falar nos bambuzinhos que rasgam isolantes para o lado de fora da mochila (vá de manga comprida!).
Chegando no Sítio do Pierre, em Itamonte, a saída já é na beira da estrada, na BR-354, onde é comum ter um resgate previamente contratado para levar de volta até Passa Quatro.
OBS.: O Sítio do Pierre fica a cerca de 3,5 quilômetros da Garganta do Registro, que dá acesso ao Parque Nacional do Itatiaia. Na Garganta existem restaurantes e ótimas hospedagens, como a Rancho Pedra do Picú e a Estalagem Engenho de Serra.
O que levar para a Serra Fina
Roupa de frio é pouco. Pela primeira vez na vida tive que abrir meu cobertor de emergência que já andava na mochila há um tempão, mesmo com dois conjuntos segunda pele e um de fleece. Mas vale ressaltar que meu saco de dormir era para conforto de 5º.
Além da segunda pele e do fleece, leve anorak resistente, touca e luvas.
Bastão de caminhada será muito útil nas descidas.
Leve uma barraca leve como a minha, que é uma Minipack Azteq, que tem apenas 1,5kg.
Lanternas comuns ou de cabeça são necessárias para os dias em que a caminhada começa antes do sol nascer, e para o acampamento.
Clor-in é fundamental. O pessoal usa ‘o banheiro’ onde dá na telha. Evite fazer o mesmo e informe-se sobre as práticas corretas de fazer necessidades fisiológicas em ambientes naturais e sobre o uso do shit tube.
Dicas para a travessia da Serra Fina:
- Uma coisa que fugiu ao nosso controle, mas acabou levando ao que eu considero a melhor forma de começar a travessia, foi o atraso. Combinamos dormir na Toca do Lobo, onde a trilha começa de fato, e começar às 5h de uma quinta. Mas só chegamos na Toca, que na verdade é um buraquinho (rs), às 3 horas e decidimos começar de uma vez. Considero a melhor forma de iniciar porque evitamos uma noite de frio ao andar na madrugada, e, sem sol, economizamos água.
- A próxima parada é o Pico do Capim Amarelo, a 2.570 metros, que considerei pesado, não sei se por estar virada, ou se por ter que usar as cordas que estão lá muitas vezes, em uma escalaminhada que pareceu infindável.
- Achei que a subida da Pedra da Mina foi a mais leve entre todas as montanhas desse maciço. O acampamento é desprotegido e deve ser um frio do cão. Dormimos no vale logo abaixo, e combinamos de subir para ver o sol nascer, mas a neblina não deixou. Estava tudo fechado e só saímos das barracas lá pelas 8h.
- É possível pegar uma trilha – do Paiolinho – até a Fazenda Serra Fina e descer após ter conquistado a Pedra da Mina (bem que podia ter uma mina de água lá no alto).
- Um próximo acampamento interessante fica em um bambuzal antes do Pico dos Três Estados. O lugar é mais quente para dormir, e costuma ficar vazio visto que muitos seguem direto para o Pico dos Três Estados e têm dificuldade em conseguir espaço. Dormindo no bambuzal, é possível levantar acampamento às 3h30 e partir para o ataque ao cume, que tem muitos trechos de escalaminhada.
- O sol nasceu lindíssimo no alto do Pico dos Três Estados, e depois disso foi só descida.
Mentira. Como dizia o bordão dessa expedição, “a gente desce pra subir, e sobe pra descer”. Isso porque se passa por várias outras montanhas para se chegar no final da travessia. Passamos pelo Cabeça de Touro, Alto dos Ivos e outros.
- O resgate estava marcado para às 15h, mas devido ao contingente, só aconteceu às 17h, e mesmo assim, buscaram nossos dois motoristas, que voltaram para nos buscar já com o carro. Então sugiro que quem for de carro fazer a travessia, vá até Itamonte e deixe no final. É melhor contratar um carro para buscar em Itamonte e levar até a Toca do Lobo. O Sítio do Pierre fica a cerca de 46 quilômetros de Passa Quatro e contratar o resgate dessa forma que estou sugerindo ajuda a evitar dependência de terceiros e espera no final, quando todos estão cansados.
- Existem muitos sites de trekking e montanhismo com ótimos relados, tracklogs e informações para quem for fazer a Serra Fina. Só olhar no Google!
- Não preciso falar que é extremamente necessário preservar o meio ambiente e não poluir ou deixar lixo na Serra Fina ou em qualquer outro lugar.
- Cada montanha tem seu grau de esforço e suas dificuldades. Até a Pedra da Mina, que eu não considerei difícil de subir, tem outro tipo de obstáculo, que é o frio. Mas em cada uma delas fiquei estarrecida pela beleza, pela emoção e pela superação.
Distâncias até Passa Quatro – MG:
441 km de Belo Horizonte – MG
266 km de Juiz de Fora – MG
264 km do Rio de Janeiro – RJ
245 km de São Paulo – SP
706 km de Vitória – ES
Leia também:
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Conta pra gente nos comentários como foi sua experiência na Travessia da Serra Fina.
por Camila Coubelle
Que linda experiência, a Serra Fina é incrível, a travessia de montanha mais clássica da Mantiqueira!
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