365 janelas, 52 quartos, 12 salões, uma capela, dois terreiros de café. Estes são alguns números da segunda maior fazenda do Brasil em número de negros escravizados.
A Fazenda Santa Clara já foi cenário para minisséries e novelas e é um dos atrativos culturais de Santa Rita de Jacutinga, cidadezinha do interior de Minas Gerais localizada entre a Zona da Mata e o Sul de Minas, quase na divisa com o Rio de Janeiro.
Sua beleza rústica e sua (triste) história podem ser conhecidas de perto em uma visita guiada de cerca de 1 hora, indicada para quem aprecia turismo cultural e que quer ver de perto a imponente construção do final do século XVIII, que ainda conserva seus traços originais.
Veja como funciona a visita guiada, como chegar no local e confira as dicas da região.
Como chegar na Fazenda Santa Clara
Santa Rita de Jacutinga está perto de cidades como Juiz de Fora (MG) e Valença (RJ), a cerca de 190 quilômetros do Rio de Janeiro, e a 340km de Belo Horizonte.
Para chegar na cidade, quem vem de carro do Rio de Janeiro tem duas opções seguindo pela Rodovia Presidente Dutra. Passando por Volta Redonda, em um total de 165 quilômetros em estrada asfaltada, ou passando por Barra do Piraí, Ipiabas e Conservatória, em um total de 173 quilômetros em estrada asfaltada.
Quem vem de São Paulo também usa a Rodovia Presidente Dutra até Volta Redonda e segue pelo bairro do Aterrado e outros, em um total de 386 quilômetros.
Quem vem de Belo Horizonte pode seguir pela BR-040 até antes de Juiz de Fora, e pegar a BR-267 passando por Lima Duarte e entrando em Bom Jardim de Minas, onde está o acesso para MG-457 para Santa Rita, em um total de 342 quilômetros de estrada asfaltada.
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De ônibus, o acesso exige baldeação e o destino pode ser Bom Jardim de Minas (MG), Barra Mansa (RJ) ou Valença (RJ). A viação Sertaneja oferece horários para Santa Rita a partir das três cidades.
A Fazenda Santa Clara está às margens da RJ-151. A partir de Santa Rita, a fazenda pode ser acessada via estrada de terra em condições razoáveis (cerca de 15 quilômetros).
Ou pelo asfalto (20 quilômetros via RJ-151). A estrada de terra começa na bifurcação à direita seguindo pela rua da Estação e há placas em todas as bifurcações.
Pelo asfalto, a saída fica do lado oposto da anterior, sentido Volta Redonda, passando pelo pórtico de entrada. Aí basta seguir as placas, e ficar atendo após a rotatória.
Quem vem de Rio Preto, distante 22 quilômetros, usa a RJ-151, e quem vem do Rio de Janeiro, pode pegar essa rodovia antes de Santa Rita de Jacutinga.
História da Fazenda Santa Clara
Os 6.000 m² da impressionante construção colonial datam de um período entre 1760 e 1780, época em que a Coroa Portuguesa cedeu as terras nas margens do Rio Preto à família Bustamante Fortes.
O solar conhecido como Mansão dos Fortes na época, hoje reina absoluto em meio à mata que o cerca. Em 1824, era ocupada pelo casal Francisco Fortes e Maria Tereza de Souza Fortes, baronesa de Monte Verde, que não teve filhos.
A história do desenvolvimento da região é entrelaçada com fatos relacionados ao café plantado ali, e aos escravos “reproduzidos”, em uma época de proibição do tráfico negreiro no Brasil. Esse último fato, não confirmado durante nossa visita.
A plantação de café era enorme, mas sem mão-de-obra escrava, declinou. Depois disso, a fazenda foi adquirida pelo Coronel João Honório de Paula Motta e são seus descendes que a administram atualmente. Alguns deles conservam e resgatam sua história, e nosso guia, por exemplo, era um dos diversos tataranetos de João Honório.
A Fazenda Santa Clara ainda foi cenário para as filmagens da minissérie Abolição e a novela Terra Nostra. Desde 2014, é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA).
O que tem na Fazenda Santa Clara?
São 12 salões, um para cada mês do ano, 52 quartos, um para cada semana do ano, e 365 janelas, uma para cada dia do ano. Mas 24 delas são pintadas, curiosamente, no local onde está localizada a senzala. Segundo o guia, para disfarça-la.
O casarão é muito bem conservado e é impressionante ver as enormes pedras do piso. Como as paredes eram erguidas com madeira, pedras e barro para sustentar os andares, como esses materiais eram carregados em carros de boi… tudo impressiona.
Móveis, utensílios, fotografias e outros objetos originais da época ainda estão por lá nos quartos e salas diversas, como a de música, a de jantar, além do salão nobre e o salão de festa.
No interior, destaca-se a capela da fazenda com seu afresco de Santa Clara pintado no teto da capela, cujo olhar parece acompanhar quem a está observando, seja qual for o ângulo.
Nos terreiros de café, vemos o sistema de armazenamento do grão para ser trabalhado e colocado para secar. Vemos até a conservação de água, em enormes tanques originais. Curioso é ver – ou melhor, ouvir – a passagem de água subterrânea, que tinha o intuito de deixar mais fresco o ambiente interno do casarão.
A senzala, com seu inevitável aspecto de frieza, mesmo vazia, parece muito pequena para a fazenda que tinha um número tão grande de escravos. Mas a masmorra, com os objetos usados para castigo e tortura dos escravos dá um nó ainda maior no peito.
A porta original da época tem chaves e mais chaves, em um sistema a prova de fuga. Você ficará intrigado com a localização dessa masmorra.
Como é a visita à Fazenda Santa Clara?
A Fazenda Santa Clara nos remete facilmente à atmosfera da época. Durante a visita ouvimos histórias do tempo em que a fazenda vivia seu auge. É inevitável tentar imaginar como era o dia a dia dos que pisaram ali.
A visita guiada com duração de cerca de 1 hora percorre áreas externas e internas do casarão, alguns cômodos principais, a capela, a senzala e a masmorra. Mostra os detalhes físicos, mas não aprofunda muito na história.
Não é necessário agendar. Basta chegar e aguardar a saída do próximo grupo.
Nosso guia foi simpático e atencioso e o atendimento na recepção também foi ótimo.
O local tem estacionamento, banheiros e uma pequena lanchonete e loja.
Perto da fazenda tem uma ponte centenária que separa Minas e Rio, e a Cachoeira Santa Clara fica a apenas 500 metros do casarão.
Vale a pena conciliar a visita com um almoço caseiro no Restaurante do Duque, que aliás, tem uma vista linda para a sede da fazenda.
Onde se hospedar em Santa Rita de Jacutinga
A cidade tem hotéis e pousadas no centro e nos arredores, com opções que variam da rusticidade à sofisticação, com conforto e hospitalidade.
Também há um hostel e algumas cachoeiras dispõem de área de camping.
Nós ficamos na Pousada Jacutinga, perfeita para quem quer ficar em um lugar sossegado e cercado de montanhas. A pousada tem ótimo custo-benefício e um café da manhã cheio de delícias.
>> Leia também: Pousada Jacutinga: sossego na cidade das cachoeiras
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S E R V I Ç O
Fazenda Santa Clara
- Estrada Santa Rita de Jacutinga – Rio Preto Km 20, Zona Rural
- Informações: (24) 2442-5703 e (24) 99872-2924
- Taxa de visitação: R$ 20 (jan/2020)
- Funcionamento: 8h às 17h
Leia também:
> 10 cachoeiras em Santa Rita de Jacutinga
> Fazenda Santa Clara, a maior fazenda de escravos da América Latina (Lugares de Minas)
>> Além de informações sobre como chegar nas cachoeiras, no post há contatos de guias e agências que oferecem o Tour na Fazenda Santa Clara e outros passeios na cidade. Também tem informações sobre onde comer, melhor época e muito mais.
Fazenda Santa Clara, Santa Rita de Jacutinga – MG
por Camila Coubelle
Não é otimista imaginar momentos felizes em um lugar de degradação, morte e tortura.
É apenas a branquitude negando todo o sangue, toda a dor.
Quem pode ter sido feliz?
Os olhos da sociedade ainda são pintados minuciosamente, assim como as janelas de davam para a masmorra.
Penso o mesmo…. é um lugar pesado de visitar, mas necessário. Abraços
Vocês foram perfeitas na descrição. Exatamente como foi a nossa visita em 04/01/2020.Parabéns.
Obrigada, Adriana. Ficamos felizes com o feedback.
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