A Serra do Caparaó fica na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, mais precisamente, entre algumas das maiores lavouras de café arábica brasileiras.
Abriga alguns dos pontos mais altos do país, cachoeiras e diversos atrativos naturais. A região tem a segunda maior cota de altitude do Brasil e é lá que está o 3º ponto mais alto do país, o famoso Pico da Bandeira, com 2.892 metros de altitude, dentro do Parque Nacional da Serra do Caparaó.
Conheça as belezas de 5 das montanhas mais altas da Serra do Caparaó, distâncias, dicas para quem vai visitar a região, como chegar e onde se hospedar lá.
Serra do Caparaó e Parque Nacional
A serra belíssima já foi palco para acontecimentos históricos. A Guerrilha de Caparaó (1966/1967) foi um dos primeiros movimentos de resistência armada à ditadura. O local é palco também de várias lendas, como a do boi chamado ‘Ó’, que vivia na área do parque e aterrorizava quem passasse por ali. Até que três boiadeiros decidiram dar fim à bravura do tal boi, laçaram e caparam o coitado, dando nome ao lugar.
A região conta com um parque muito bem estruturado, que é um dos ícones do montanhismo no Brasil, com 31,8 mil hectares. Existente desde 1961, o Parque Nacional do Caparaó tem quatro áreas de acampamento, cobiçadíssimas em alta temporada, e Centro de Visitantes em ambas as entradas. Uma delas fica na cidade de Alto Caparaó, Minas Gerais, e a outra, em Pedra Menna, Espírito Santo.
Como chegar em Alto Caparaó
De carro a partir de Belo Horizonte é preciso seguir pela BR-381, sentido Vitória, e entrar no entroncamento da BR-262, virar à esquerda no Trevo do Reduto e seguir por mais 22 quilômetros até Alto Jequitibá. Aí são mais 14 quilômetros até Alto Caparaó. Quem sai de Vitória deve seguir até o trevo de Martins Soares, entrar à esquerda e seguir por mais 24 quilômetros até Alto Jequitibá.
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De ônibus é preciso embarcar até Manhumirim, a cerca de 26 quilômetros de Alto Caparaó, ou Manhuaçu, a cerca de 50 quilômetros. As empresas são a Pássaro Verde a partir de Belo Horizonte, viação Rio Doce a partir do Rio de Janeiro, viação Itapemirim a partir de São Paulo, e viação Águia Branca para quem vem de Vitória. A partir de Manhumirim ou Manhuaçu a viação Rio Doce oferece horários diários até Alto Caparaó.
Onde se hospedar em Alto Caparaó
A cidade é essencialmente turística e oferece uma vasta rede de hotéis e pousadas, dos mais simples aos mais estruturados, alguns abrigos, muitos restaurantes e cafés. As hospedagens indicam contatos de guias e de transfers de jipe até a Tronqueira, se for o caso.
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Montanhas da Serra do Caparaó
Além do Pico da Bandeira, que é uma montanha de fácil ascensão entre os 10 pontos mais altos do Brasil, a Serra do Caparaó ainda conta com o Pico do Calçado com 2.849 metros e o Pico do Cristal, com 2.770 metros, no lado mineiro.
Eu aproveitei a ida ao Parque e a subida ao Pico da Bandeira, que estavam incluídas na rota do Caminho da Luz, e comecei a pesquisar sobre os outros pontos famosos do parque. Já sabia que, após o Projeto Pontos Culminantes, a nova lista incluía mais 2 montanhas dali, chamadas Pico sem Nome 1 e Pico sem Nome 2. Foi difícil achar informações na internet e custei a desconfiar que os picos já tinham nome (Pico 2 ou Cruzeiro e Pico do Calçado Mirim, respectivamente), mas liguei os pontos ao comparar as medidas. O IBGE ainda não considera oficialmente esses dois pontos como montanhas independentes, mas sim como cumes de outras montanhas. E isso divide as opiniões dos montanhistas!
Pela dúvida, e pela vontade de subir, decidi tentar alcançar o cume desses 5 pontos do Parque Nacional do Caparaó.
O parque abriga ainda outros picos menores, mas muito interessantes, no lado capixaba, como o Morro da Cruz do Negro, com 2.658 metros, o Pico da Pedra Roxa, com 2.649 metros, o Pico dos Cabritos ou do Tesouro, com 2.620 metros, o Pico do Tesourinho, com 2.584 metros, e a Pedra Menina, 2.037 metros. Esses ficaram para a minha próxima visita!
Pico da Bandeira e Pico do Cruzeiro
A maioria prefere subir de madrugada para ver o sol nascer de lá, mas a nossa programação previa a subida assim que o parque abrisse. Cheguei de jipe até a Tronqueira, último ponto onde chega carro subindo pela entrada mineira. Inclusive, vários carros 1.0 estavam lá no estacionamento.
Comecei a subir às 7h35. Ao passar no Terreirão, constatei no mapa fixado ao lado da Casa de Pedra a localização de todos os pontos que desejava subir, e corri bastante para dar conta de ir pelo menos em três deles.
Cheguei no cume do Pico da Bandeira às 10h e de lá dá para avistar todos os pontos facilmente. A maravilha do cenário é de tirar o fôlego até mais que a subida. Fiquei meia hora no cume da 3ª montanha mais alta do Brasil, deslumbrada com o visual.
Meia hora depois, junto com um colega que decidiu ir também, desci rumo ao Pico do Cruzeiro, que parece perto. Ledo engano, porém, não é difícil chegar. É preciso pegar a bifurcação para o lado da entrada capixaba.
Pico do Calçado e Pico do Calçado Mirim
Seguimos para o Calçado e o Calçado Mirim, e com mais alguns minutos, atingimos facilmente ambos. Em ambos os cumes há um “monumento” de pedras sinalizando o ponto e placas rústicas com informações de distâncias. O Léo Rebello, um montanhista experiente que já conhece bem o parque me deu a preciosa dica para se chegar ao Cristal. Era preciso contornar a base do Calçado, mirar o Pico do Cristal e seguir pela laje de pedra. A galera é solidária e não se esquece de alimentar os totens que indicam a direção. Não é exatamente uma trilha, mas sim uma laje com vegetação rasteira, então basta seguir na direção da montanha. Nem foi preciso usar o tracklog que eu tinha solicitado no site do Tacio Philip.
No meio do caminho, o Fabiano resolveu esperar. Combinamos de ele ficar me olhando dali, larguei o bastão e fui. Fiquei me perguntando se não devia voltar. Foi a primeira vez que fui a uma montanha totalmente sozinha. Segui, principalmente, porque havia tempo para pelo menos tentar.
Pico do Cristal
O Cristal é o mais difícil deles, por ser rochoso e exigir uma escalaminhada no final. Acho que a adrenalina era tanta, que quando percebi, estava na última subida. Engraçado que enquanto segurava com os dedos onde desse, nem imaginava como ia descer. (Todo santo empurra, né?!)
Cheguei!
Olhei o relógio: 12h22
O cristal remete a um altar aonde quem chega ali pode expressar sua gratidão à montanha.
Silêncio.
Só quebrado pelo som do vento.
O frio fazia minha respiração arder, e me arrependi de não levar o balaclava.
Não sei descrever o que eu senti. Confesso que me achei o máximo. Poxa, minha primeira montanha sozinha! Óbvio que eu gritei, sorri e chorei. Achei o marco do IBGE, mas não sei identificar qual a diferença de um para o outro.
Fiquei só 10 minutos ali, com a sensação que era o último lugar do mundo, e que só existia eu e ela, a montanha.
Descer é a pior parte. Segundos para decidir onde colocar o pé. Me senti uma aranha. Qualquer descuido no trecho íngreme seria perigoso. Cheguei na base e dali foi tranquilo. Encontrei o Fabiano e chegamos de volta à bifurcação às 13h40, melhor do que o horário que tinha previsto, às 14h.
Descemos no gás e passamos pelo Terreirão, que estava uma cidade fantasma. Ainda alcançamos os últimos do nosso grupo e chegamos na Tronqueira às 16h em ponto.
Pega jipe, corre-corre, despede de quem ainda está por ali, pega as coisas, e sem banho e sem lanche, volto de carona de Alto Caparaó com mais uma etapa cumprida do Projeto Vida sem Paredes nos 10 Pontos Culminantes do Brasil.
Minhas conquistas no Parque Nacional do Caparaó:
- Pico da Bandeira: 2.897 metros (3º ponto culminante)
- Pico 2 ou Pico do Cruzeiro: 2.852 2.897 metros
- Pico do Calçado: 2.849 2.897 metros
- Pico do Calçado Mirim: 2.818 2.897 metros
- Pico do Cristal: 2.770 m (6º ponto culminante)
Distâncias:
- De Alto Caparaó até a portaria MG: 2 km (chega carro)
- Da portaria ao acampamento Tronqueira: 6 km (chega carro)
- Da Tronqueira ao acampamento Terreirão: 3,7 km (apenas trilhas)
- Do Terreirão ao Pico da Bandeira: 3,2 km (apenas trilhas)
- Total de 14,9 Km (distâncias fornecidas pelo parque)
- De Pedra Menina até a portaria ES: 9 km (chega carro)
- Da portaria ao acampamento Macieira: 3,6 km (carro)
- Da Macieira ao acampamento Casa Queimada: 5,4 km (carro)
- Da Casa Queimada ao Pico da Bandeira: 4,5
- Total de 22,5 Km (distâncias fornecidas pelo parque)
> Quem sobe pelo ES passa na “porta” do Calçado e Calçado Mirim para chegar ao Pico da Bandeira.
> Distância entre o Pico da Bandeira e o Pico do Cristal: +/- 3 Km (pelo tracklog)
Anote as dicas:
- Ingresso: gratuito (ago/2019)
- O parque funciona de segunda a domingo, de 7h às 18h, com ou sem pernoite.
- As reservas de acampamento podem ser feitas no site do parque, e vale a pena conferir as informações lá.
- Os Jipes variam de R$ 40 a 70 e você pode contratar ao chegar na cidade. São muitas opções.
- Em alto Caparaó tem muitas lojas que vendem ou alugam artigos outdoor, caso você tenha esquecido alguma coisa.
- É preciso ter preparo físico para fazer esse trajeto que eu fiz.
- Respeite as regras do parque e jogue o lixo nos locais certos lá.
Distâncias até Alto Caparaó (Entrada por MG):
326 km de Belo Horizonte – MG
295 km de Juiz de Fora – MG
433 km do Rio de Janeiro – RJ
752 km de São Paulo – SP
259 km de Vitória – ES
Distâncias até Pedra Menina (Entrada por ES):
369 km de Belo Horizonte – MG
282 km de Juiz de Fora – MG
420 km do Rio de Janeiro – RJ
739 km de São Paulo – SP
265 km de Vitória – ES
Montanhas da Serra do Caparaó – MG / ES
por Camila Coubelle
[…] 5 ou 3 picos da Serra do Caparaó […]
[…] 5 ou 3 picos da serra do Caparaó […]
[…] as circunstancias obrigaram. Da primeira, na Serra do Caparaó, fui ao Pico do Cristal, e contei aqui a experiência. Dessa vez, durante minha estadia em Sana, distrito de Macaé – RJ, (depois, […]
Camila você escreve muito bem!
Eu pretendo subir em Fevereiro de 2016 no carnaval e o seu blog vai ajudar muito no planejamento da viagem e na hora de orientar as outras pessoas do grupo!
Obrigado por compartilhar esse conhecimento tão rico conhecimento!
Que legal que gostou!
Muito obrigada, e eu tenho certeza que você vai gostar de lá!
😀
Parabéns Camila, fico sensacional
Que alegria! Participei da coletiva 2015 do CL e ao ler esse primor de relato senti-me revendo a minha escalaminhada ao Pico da Bandeira. Que bom saber desses outros picos pq assim tenho desculpas p revisitar o parque com mais calma.Parabéns.
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